Congresso derruba alta do IOF e força governo a novos cortes: risco fiscal cresce em 2025
Contexto fiscal sob pressão após queda do IOF
A derrubada, pelo Congresso Nacional, do decreto que previa o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) lançou o governo em uma nova encruzilhada fiscal.
Especialistas em contas públicas apontam que, diante da decisão legislativa, a administração federal será obrigada a recorrer a bloqueios adicionais de recursos e novos contingenciamentos para manter a meta fiscal de 2025 — já considerada desafiadora antes da medida.
Embora o Palácio do Planalto tenha apostado no aumento do IOF como solução temporária para elevar a arrecadação, a rejeição do decreto deixa uma lacuna bilionária nas contas públicas, estimada entre R$ 10 bilhões e R$ 15 bilhões, a depender das projeções.
No entanto, o maior risco, segundo economistas, reside na ausência de reformas estruturais duradouras que garantam equilíbrio fiscal no médio e longo prazo.
Congresso derruba aumento do IOF: entenda o impacto imediato
Na quarta-feira (25), parlamentares decidiram derrubar o decreto presidencial que alterava as regras de cobrança do IOF.
A proposta, originalmente planejada para gerar cerca de R$ 20 bilhões adicionais ao longo de 2025, previa aumentos em operações de crédito, câmbio, seguros e investimentos.
Com a decisão:
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O governo perde uma estimativa de R$ 10 bilhões a R$ 15 bilhões em arrecadação neste ano;
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Será necessário reforçar os bloqueios já existentes no Orçamento de 2025, que somam R$ 31,3 bilhões;
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A margem de manobra para gastos discricionários, como investimentos em infraestrutura e custeio administrativo, foi ainda mais comprimida.
Segundo economistas, como Felipe Salto, ex-secretário da Fazenda de São Paulo, essa situação torna “inevitável” um aumento nos contingenciamentos, o que compromete a entrega de políticas públicas essenciais.
A meta fiscal em xeque: déficit zero cada vez mais distante
A meta fiscal do governo para 2025 é alcançar o chamado “déficit zero”, isto é, equilibrar receitas e despesas primárias — desconsiderando o pagamento de juros da dívida.
Para isso, o Executivo ainda pode registrar um resultado negativo de até 0,25% do PIB, algo em torno de R$ 31 bilhões, sem infringir a regra estabelecida.
Contudo, sem o reforço da arrecadação via IOF, essa margem já considerada apertada torna-se ainda mais difícil de ser respeitada.
De acordo com o economista André Galhardo, da consultoria Análise Econômica, o governo será obrigado a ampliar os bloqueios e segurar ao máximo os gastos para evitar o descumprimento da meta.
Se a meta for alterada:
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O mercado tende a reagir negativamente;
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Pode haver fuga de capitais e desvalorização cambial;
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Os juros futuros podem subir, pressionando a inflação;
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A credibilidade da equipe econômica pode ser questionada.
O que está fora do radar: medidas estruturais continuam ausentes
Mesmo diante de alertas recorrentes sobre o risco fiscal crescente, nem o Executivo nem o Legislativo têm dado sinais claros de disposição para enfrentar o verdadeiro cerne do desequilíbrio das contas públicas: o crescimento das despesas obrigatórias e a rigidez orçamentária. 🧾
Entre as propostas consideradas “impopulares” mas necessárias, destacam-se:
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❌ Fim da correção real do salário mínimo e reajustes automáticos para servidores;
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❌ Revisão da fórmula de cálculo dos gastos mínimos com Saúde e Educação;
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❌ Redução das emendas parlamentares impositivas;
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❌ Novas reformas da Previdência e do Fundeb.
Sem ações nesse sentido, analistas do mercado projetam que a dívida pública, hoje em 76,2% do PIB (R$ 9,2 trilhões), pode atingir até 93,5% do PIB até 2034.
Um patamar que colocaria o Brasil em posição de alerta máximo perante credores e investidores internacionais.
Mercado minimiza impacto do IOF, mas alerta para improvisos
Apesar da frustração com a perda de arrecadação, parte do mercado financeiro parece não ter precificado com severidade o impacto da derrubada do IOF.
Isso porque a medida foi interpretada mais como uma ação emergencial de curto prazo do que como uma estratégia fiscal de longo alcance.
Segundo Marcos Moreira, da WMS Capital, o decreto do IOF não era suficiente para reverter o cenário fiscal.
Ele servia apenas como “paliativo” para fechar as contas momentaneamente.
A ausência de medidas de maior envergadura, porém, segue como motivo de preocupação.
Governo e Congresso continuam evitando o essencial
Tanto o governo quanto o Congresso Nacional têm evitado enfrentar o debate sobre os verdadeiros gargalos das contas públicas.
Em vez de propostas de corte de gastos, são recorrentes os projetos que aumentam despesas, como a ampliação de cadeiras na Câmara dos Deputados, de 513 para 531, que poderia gerar impacto anual de até R$ 95 milhões.
💬 Economistas apontam contradições:
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O Congresso pressiona por responsabilidade fiscal, mas não corta na própria carne;
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O governo anuncia cortes, mas evita reformas impopulares que poderiam comprometer alianças políticas;
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Em ano eleitoral (2026), a tendência é de paralisia legislativa e aumento de demandas por gastos.
IOF: do aumento à revogação parcial
A proposta inicial da equipe econômica previa diversas alterações nas alíquotas do IOF:
🧾 Operação | Situação Original | Após Reversão |
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Empréstimos | Alíquota fixa de 0,95% | Retorno para 0,38% |
IOF diário sobre crédito | De 0,0041% para 0,0082% | Mantida |
Operações de risco sacado | Aumento revertido parcialmente | Alíquota fixa retirada |
VGBL (seguros) | IOF incide a partir de R$ 300 mil | A partir de R$ 600 mil em 2026 |
Fundos de Investimento (FDI) | Tributação ampliada | Parte revogada |
Ainda em maio, o governo havia recuado de um aumento do IOF sobre aplicações de fundos no exterior. Com isso, manteve-se a alíquota zero para evitar fuga de capitais.
Medida Provisória: tentativa de compensar a perda
Como resposta às perdas provocadas pela reversão parcial do aumento do IOF, a equipe econômica editou uma Medida Provisória (MP) com propostas para elevar outras fontes de arrecadação. Entre as medidas:
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Aumento da tributação sobre juros sobre capital próprio;
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Taxação de apostas esportivas online (bets);
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Unificação do IR sobre investimentos;
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Inclusão de criptoativos na base tributária.
Embora essas propostas tenham potencial de gerar R$ 10 bilhões adicionais, elas também enfrentam resistência no Congresso e ainda carecem de regulamentação e articulação política para serem aprovadas.
Risco fiscal: sinal amarelo aceso
A sucessão de medidas paliativas, associada à ausência de reformas estruturais, tem sido acompanhada com apreensão por economistas e instituições financeiras.
A percepção geral é de que o Brasil vive um risco fiscal crescente, cuja solução exige escolhas duras e coordenação entre os Poderes.
📌 Conclusões principais:
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A derrubada do IOF compromete o curto prazo;
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O médio e longo prazo seguem indefinidos;
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Sem reformas, a dívida pública se tornará insustentável;
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2025 será marcado por tensões fiscais e paralisia política;
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Medidas estruturais são urgentes, mas continuam postergadas.
Considerações finais
O Brasil está diante de um dilema fiscal que não será resolvido por decretos pontuais ou MPs paliativas. A derrubada do aumento do IOF pelo Congresso evidenciou o esgotamento das soluções improvisadas.
A depender apenas de bloqueios orçamentários e aumentos pontuais de tributos, o governo corre o risco de afundar ainda mais a confiança do mercado e comprometer a recuperação econômica do país.
Enquanto Executivo e Legislativo evitarem enfrentar o debate sobre o tamanho do Estado, a rigidez do Orçamento e o custo da máquina pública, o desequilíbrio fiscal continuará sendo o “elefante na sala” da política econômica brasileira.