Inflação Desacelera na Argentina e Atinge Menor Nível em 5 Anos: Reflexo das Reformas de Milei
Cenário Econômico Atual da Argentina: Avanços, Desafios e Implicações Futuras
A economia argentina iniciou o ano de 2025 sob fortes tensões internas e externas.
Após anos de inflação elevada, déficits fiscais recorrentes e perda de credibilidade internacional, o país entrou em uma fase de profundas transformações sob o comando do presidente Javier Milei.
Desde sua posse, em dezembro de 2023, Milei implementou uma agenda ultraliberal e reformista com foco em ajuste fiscal severo, contenção monetária e abertura econômica.
As primeiras reações foram intensas — com desemprego, protestos e aumento da pobreza — mas, gradualmente, alguns indicadores passaram a sinalizar uma possível virada.
O dado mais emblemático foi divulgado pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec) no dia 12 de junho de 2025: a inflação mensal recuou para 1,5% em maio, atingindo o menor patamar desde maio de 2020.
Este resultado representa não apenas uma conquista estatística, mas um marco simbólico da nova política econômica argentina, refletindo o impacto direto das medidas de contenção fiscal e monetária.

Inflação em Queda: Um Alívio Após Anos de Crise
Comparado ao mês anterior, quando o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) havia registrado 2,8%, a queda para 1,5% representa uma desaceleração significativa.
No acumulado dos últimos 12 meses, a inflação passou de 47,3% para 43,5%, o que ainda é um número alto, mas expressivamente inferior ao que a Argentina enfrentou durante boa parte da última década, quando chegou a ultrapassar os 100% ao ano.
Esse recuo, além de favorecer a previsibilidade econômica, também reforça o discurso do governo de que a inflação é um fenômeno essencialmente monetário.
Javier Milei comemorou publicamente os resultados, afirmando que o controle dos gastos públicos e a redução da base monetária são fundamentais para restabelecer o equilíbrio de preços e garantir estabilidade ao país.
🔍 Setores Econômicos: Alta de Serviços Mesmo com Desaceleração Geral
Apesar da desaceleração da inflação em termos gerais, nem todos os setores acompanharam essa tendência. Alguns segmentos continuaram registrando aumentos consideráveis em maio, o que evidencia os desafios ainda existentes no cotidiano da população:
| Setor | Variação |
|---|---|
| 📡 Comunicação | +4,1% |
| 🍽️ Restaurantes e hotéis | +3,0% |
| 🩺 Saúde | +2,7% |
| 🛍️ Bens e serviços diversos | +2,6% |
| 🏠 Habitação, água, eletricidade, gás e combustíveis | +2,4% |
Esses setores estão entre os mais sensíveis à estrutura de custos e às reformas que eliminaram subsídios, principalmente os relacionados aos serviços básicos e infraestrutura urbana.
A pressão inflacionária em bens e serviços de uso cotidiano ainda afeta com intensidade a população, principalmente os estratos mais vulneráveis.
Política Econômica: Ajuste Rígido e Superávit Fiscal
Desde o início do mandato, o governo Milei tem promovido uma reestruturação fiscal agressiva. As principais medidas incluem:
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Suspensão das obras públicas federais
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Interrupção dos repasses aos governos provinciais
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Eliminação progressiva de subsídios em áreas como energia, transporte, água e saúde
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Redução drástica da emissão monetária
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Corte de pessoal e de gastos administrativos no setor público
Essas ações visam a obtenção de superávits fiscais e o reequilíbrio das contas públicas.
Em abril de 2025, o governo obteve superávit pela terceira vez consecutiva — um feito que não ocorria na Argentina desde os anos 2000.
Embora o ajuste tenha provocado dor social no curto prazo, sobretudo no início de 2024, com a pobreza atingindo 52,9%, o governo sustenta que tais sacrifícios são necessários para evitar um colapso ainda maior.
💰 Acordo com o FMI e Reação dos Mercados
A estabilidade fiscal e a sinalização de compromisso com reformas estruturais contribuíram para reaproximar a Argentina das instituições multilaterais.
Em abril, o país assinou um novo acordo de US$ 20 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI). A primeira parcela, de US$ 12 bilhões, foi liberada de forma imediata e se destina a:
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Reforçar as reservas internacionais
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Pagar dívidas vencidas com o próprio FMI
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Reduzir a pressão sobre o mercado de câmbio
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Atrair investimentos estrangeiros diretos (IED)
O mercado financeiro reagiu positivamente, e o risco-país da Argentina caiu para o menor nível desde 2018.
O fortalecimento das reservas do Banco Central tem sido essencial para a confiança dos investidores e a estabilização cambial.
Fim do “Cepo” Cambial e Liberalização da Economia
Um dos passos mais ousados da gestão Milei foi o início do processo de desmonte do chamado “cepo cambial”, o conjunto de controles que restringia transações em moeda estrangeira desde 2019. A liberação parcial do câmbio incluiu:
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Câmbio flutuante determinado por mercado
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Livre circulação de moedas estrangeiras
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Autonomia para empresas operarem com moedas internacionais
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Acesso ampliado ao mercado financeiro global
O objetivo é tornar a economia argentina mais transparente e integrada, permitindo que as forças de oferta e demanda definam o valor real do peso.
A abertura cambial foi bem recebida por parte do empresariado e investidores externos, mas gerou incertezas temporárias entre setores dependentes de importações subsidiadas.
Iniciativas Monetárias e Captação de Recursos
No campo monetário, o governo implementou uma série de iniciativas para garantir liquidez e reforçar a confiança no sistema financeiro:
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Autorização do uso de dólares guardados fora do sistema bancário sem exigência de comprovação de origem (medida polêmica, mas eficaz na injeção de capital)
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Emissão de títulos públicos lastreados em moedas fortes
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Criação de mecanismos para captar empréstimos internacionais
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Manutenção da política de não emissão de moeda para cobrir déficit
Essas ações têm o objetivo de desdolarizar parcialmente a economia, promover a transparência fiscal e restaurar a credibilidade do Banco Central, historicamente fragilizada por décadas de intervenção política.
🎯 Metas do Governo: Inflação Baixa e Ambiente de Negócios Estável
O foco principal do governo continua sendo o controle da inflação. A meta anunciada por Milei e sua equipe econômica é consolidar, de forma sustentável, um índice mensal inferior a 2%, o que permitiria ao país reconstruir sua base produtiva e recuperar o poder de compra da população.
Para alcançar esse objetivo, o governo tem trabalhado em quatro frentes principais:
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Redução do custo de vida por meio de livre mercado e concorrência
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Estabilidade fiscal duradoura, com superávits primários sucessivos
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Ambiente favorável ao empreendedorismo, com menos burocracia e impostos
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Retomada dos investimentos, tanto domésticos quanto externos
📌 Considerações Finais: Avanços Reais, Mas com Custo Social Alto
A queda da inflação para 1,5% em maio de 2025 representa um marco simbólico e técnico.
É a primeira vez em muitos anos que a Argentina consegue combinar disciplina fiscal, controle monetário e início de recuperação de credibilidade externa.
No entanto, os avanços vêm acompanhados de um custo social significativo, com desemprego, protestos e perda temporária de poder aquisitivo por parte das classes médias e baixas.
Resta saber se o governo conseguirá manter essa trajetória sem quebras de governabilidade ou erosão da base política.
A estabilidade política será fundamental para a continuidade das reformas, assim como a comunicação eficiente dos objetivos de longo prazo.
Caso consiga atravessar esse período de transição com êxito, a Argentina poderá, enfim, romper com o ciclo histórico de crises e instabilidade que marcou grande parte de sua trajetória econômica nas últimas décadas.
O país vive, portanto, um momento decisivo — e o mundo acompanha com atenção.






