MAIORIA DOS UNIVERSITÁRIOS NO BRASIL VEIO DA REDE PÚBLICA, APONTA IBGE
Introdução
Uma realidade que há anos parecia distante vem sendo lentamente transformada: estudantes da rede pública estão, cada vez mais, ocupando as cadeiras do ensino superior no Brasil.
De acordo com a mais recente edição da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Educação 2024), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sete em cada dez pessoas que já frequentaram a universidade no país cursaram o ensino médio em escolas públicas.
A pesquisa, divulgada no dia 13 de junho de 2025, traça um panorama abrangente da educação brasileira e aponta conquistas importantes, mas também revela desigualdades que persistem, principalmente quando se observam os recortes por raça, renda e tipo de instituição.
UM OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL
A PNAD Contínua da Educação oferece dados valiosos para compreender a trajetória dos brasileiros em relação ao acesso e permanência no ensino superior.
O levantamento considera todas as pessoas que, em algum momento da vida, cursaram graduação, mesmo que não tenham concluído.
De forma geral, os dados revelam que:
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70% dos ex-universitários estudaram em escolas públicas no ensino médio
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Apenas 20% vieram da rede privada
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Os demais não informaram ou tiveram escolarização mista
Essa proporção não se limita aos cursos de graduação: ela também se reflete nas etapas de pós-graduação.
De acordo com o IBGE, quase 6 em cada 10 pessoas que frequentaram especialização, mestrado ou doutorado também vieram do ensino médio público.
FATORES QUE EXPLICAM ESSA MUDANÇA
A ampliação da presença de estudantes da rede pública no ensino superior tem sido atribuída, em grande parte, às políticas públicas de inclusão educacional implementadas ao longo das últimas décadas.
Programas como o Prouni (Programa Universidade para Todos) e o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) têm permitido que jovens de baixa renda ingressem em universidades privadas com bolsas ou financiamento facilitado.
Além disso, o sistema de cotas implementado nas instituições federais a partir de 2012 desempenhou papel fundamental.
Essa política garante percentuais de vagas para estudantes que tenham cursado todo o ensino médio em escolas públicas, com recortes específicos para renda familiar, cor e etnia.
🗣️ Segundo William Araújo Kratochwill, pesquisador do IBGE responsável pela divulgação da pesquisa: Pode, sim, ter relação com políticas de inclusão, como cotas para alunos da rede pública e programas como Prouni e Fies, que focam principalmente em alunos de baixa renda, que geralmente estudaram em escolas da rede pública de ensino.
📈 AUMENTO NA CONCLUSÃO DO ENSINO SUPERIOR
Outro dado relevante identificado pela PNAD Educação de 2024 é o aumento no percentual de pessoas que concluíram o ensino superior no Brasil.
Em 2023, 19,7% da população com 25 anos ou mais possuía diploma universitário.
Já em 2024, esse número subiu para 20,5%, atingindo o maior índice desde o início da série histórica, em 2016.
Embora o crescimento ainda seja modesto, ele representa uma tendência de avanço educacional no país.
Esse percentual, no entanto, continua abaixo da média de países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), evidenciando que há ainda um longo caminho pela frente em termos de democratização do ensino superior.
RAÇAS E O ACESSO DESIGUAL À UNIVERSIDADE
A PNAD também lança luz sobre a distribuição racial no ensino superior.
Houve aumento na presença de pessoas pretas e pardas nos cursos de graduação — sejam eles tecnológicos ou de bacharelado.
Contudo, o estudo mostra que estudantes brancos ainda são maioria, sobretudo nos cursos mais tradicionais e nas instituições públicas mais competitivas.
🎯 Frequência escolar entre jovens de 18 a 24 anos:
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Brancos: 37,4% estão matriculados no ensino superior
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Pretos e pardos: 20,6%
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Média nacional: 27,1%
A comparação com a meta 12 do Plano Nacional de Educação (PNE) é inevitável. O plano estabelece que, até 2024, a taxa de frequência líquida no ensino superior entre jovens de 18 a 24 anos deveria atingir 33%. Apesar dos avanços, essa meta não foi alcançada.
Frequência escolar líquida considera o número de jovens que estão no ensino superior em idade adequada, em relação ao total da população nessa faixa etária.
DE ONDE VÊM OS UNIVERSITÁRIOS BRASILEIROS?
Com base na PNAD 2024, o IBGE organizou os dados da seguinte forma:
Rede de origem dos alunos por etapa educacional:
Education Level | % from Public Schools |
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Ensino superior | 70% |
Especialização / MBA | 59% |
Mestrado / Doutorado | 58% |
📌 A presença majoritária da rede pública nessas etapas confirma uma mudança progressiva no perfil do estudante universitário brasileiro. Anos atrás, era quase impensável que a maior parte dos pós-graduandos tivesse estudado em escolas públicas no ensino básico.
O QUE OS NÚMEROS ESCONDEM?
Embora os dados sejam positivos, não se pode ignorar as desigualdades estruturais ainda existentes.
O ingresso no ensino superior por parte de alunos da rede pública muitas vezes é marcado por dificuldades adicionais: menor preparação acadêmica, maior necessidade de trabalhar durante a faculdade, carência de apoio psicológico, e acesso limitado a bibliotecas, equipamentos e orientação vocacional.
Além disso, mesmo com o crescimento de estudantes pretos e pardos, a baixa taxa de conclusão entre esses grupos continua sendo um desafio.
Muitos acabam evadindo antes do final do curso por motivos financeiros, discriminação racial ou falta de acolhimento.
CAMINHOS PARA O FUTURO: COMO AVANÇAR?
A consolidação da democratização do ensino superior passa por políticas integradas e sustentáveis, que contemplem não apenas o acesso, mas também a permanência e a qualidade da formação oferecida.
Entre as medidas sugeridas por especialistas estão:
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Expansão e fortalecimento das bolsas permanência para alunos de baixa renda;
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Ampliação de ações afirmativas em cursos de pós-graduação;
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Investimento em políticas de apoio psicopedagógico;
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Melhoria na infraestrutura das universidades públicas;
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Fortalecimento do ensino médio, sobretudo nas escolas públicas;
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Incentivo à oferta de cursos noturnos e à distância para quem trabalha. 🎓
CONCLUSÃO: EDUCAÇÃO COMO FERRAMENTA DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL
Os dados da PNAD Educação 2024 reforçam que o Brasil está no caminho certo ao ampliar o acesso ao ensino superior para as camadas mais vulneráveis da população.
No entanto, é necessário intensificar os esforços para garantir que mais brasileiros possam não apenas entrar na universidade, mas também concluí-la com qualidade.
A educação pública segue sendo a principal porta de entrada para o ensino superior — e os dados demonstram que, com as ferramentas certas, é possível mudar o perfil da elite acadêmica brasileira.
A diversidade nas universidades é não apenas uma questão de justiça social, mas também de desenvolvimento econômico e inovação.
Quanto mais plurais forem nossas salas de aula, mais ricas serão as ideias que delas emergem.