TARIFA DE 50% DOS EUA: COMO A EMBRAER PODE REAGIR AO IMPACTO ECONÔMICO E ESTRATÉGICO
Introdução
A indústria aeroespacial brasileira atravessa um momento de grande incerteza, especialmente após a decisão do governo dos Estados Unidos de impor uma tarifa de 50% sobre produtos importados do Brasil.
A medida, anunciada pelo presidente americano Donald Trump, ameaça impactar diretamente a Embraer, uma das principais exportadoras do país e referência mundial na fabricação de aeronaves.
Com cerca de 35% de suas vendas direcionadas ao mercado norte-americano, a empresa se vê diante de uma pressão inédita.
Projeções internas indicam que, apenas em 2025, o impacto financeiro pode chegar a R$ 2 bilhões em tarifas adicionais, podendo acumular até R$ 20 bilhões até 2030.
Este artigo analisa, de forma detalhada, como essas tarifas afetam o modelo de negócios da Embraer, quais são as possíveis estratégias para mitigar os efeitos negativos e qual o papel das negociações bilaterais entre Brasil e Estados Unidos para o futuro da empresa.

| Aspecto | Detalhes |
|---|---|
| Contexto da Embraer | Presença significativa no mercado dos EUA, operando com margens já reduzidas. |
| Análise | Segundo Alberto Valerio (UBS BB), repassar custos ao cliente é desafiador no setor atual. |
| Custo Adicional por Aeronave | Aproximadamente R$ 50 milhões por unidade. |
| Impacto em 2025 | Estimado em R$ 2 bilhões no total. |
| Projeção até 2030 | Potencial de R$ 20 bilhões em tarifas acumuladas. |
Em declarações recentes, Francisco Gomes Neto, presidente da Embraer, afirmou que muitas companhias aéreas podem cancelar ou adiar pedidos, aguardando uma resolução das tensões comerciais.
Tal movimento poderia reduzir o fluxo de caixa, afetar os investimentos e forçar cortes de pessoal, cenário semelhante ao que a empresa enfrentou durante a pandemia da Covid-19.
Por Que a Embraer Não Pode Redirecionar Suas Vendas?
A diversificação de mercados parece uma solução lógica, mas não é tão simples no setor de aviação. Isso ocorre porque:
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Aviões não são commodities. Cada modelo é projetado para atender requisitos específicos dos clientes, especialmente os norte-americanos.
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O modelo E175 da Embraer é um dos poucos compatíveis com as “scope clauses” dos sindicatos dos EUA, que determinam limites para aeronaves regionais.
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35% a 36% da frota da Embraer foi desenhada exclusivamente para o mercado americano, o que dificulta sua colocação em outros países.
Conforme explicou Gomes Neto, remanejar aeronaves para outros mercados é inviável, já que muitos modelos possuem certificações e adaptações voltadas ao cenário regulatório dos EUA.
Alternativas em Estudo
Desde que Donald Trump anunciou a tarifa inicial de 10% em abril de 2025, a Embraer tem buscado alternativas para reduzir impactos. Algumas possibilidades incluem:
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Ampliação da produção nos Estados Unidos:
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A fabricação de jatos executivos poderia ser parcialmente transferida para fábricas norte-americanas.
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No entanto, para aeronaves comerciais, o custo elevado e a baixa demanda tornam essa opção menos viável.
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Revisão do mix de produtos:
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Apostar em modelos com maior aceitação global, reduzindo a dependência do mercado americano.
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Focar em segmentos premium, como jatos executivos e soluções de defesa, que possuem margens maiores.
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Negociações bilaterais:
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Intensificação das tratativas com o governo americano para buscar redução ou isenção das tarifas.
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Apoio de entidades como a Amcham (Câmara Americana de Comércio no Brasil) para fortalecer o diálogo entre os países.
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O Papel da Lei de Reciprocidade Econômica
Outro ponto de atenção é a possibilidade de o Brasil aplicar a Lei de Reciprocidade Econômica, aprovada em abril de 2025 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
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45% dos componentes das aeronaves da Embraer são importados dos EUA.
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Caso o Brasil opte por retaliar, os custos da cadeia produtiva aumentariam ainda mais, impactando diretamente a competitividade da Embraer.
Segundo Valerio, do UBS BB, “se a lei for aplicada, é game over”, pois a empresa ficaria entre dois cenários adversos: tarifas elevadas para exportar e custos maiores para importar peças essenciais.
A Situação das Negociações
A decisão dos EUA pegou o mercado de surpresa, obrigando o governo brasileiro a agir rapidamente. O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, realizou encontros com empresários para avaliar medidas.
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Empresários sugeriram negociar um prazo de 90 dias antes da aplicação da tarifa.
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O governo brasileiro, no entanto, ainda avalia se essa estratégia é viável.
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Entidades como a Amcham e a Câmara de Comércio dos EUA emitiram notas defendendo uma negociação de “alto nível”.
Gomes Neto demonstrou otimismo moderado, lembrando do acordo entre EUA e Reino Unido, no qual uma tarifa aeroespacial de 10% foi reduzida para zero após concessões mútuas.
Cenário Econômico e Projeções até 2030
Se as tarifas de 50% forem mantidas, o cenário da Embraer será comparável aos piores anos de crise da companhia, como durante a pandemia de Covid-19. A empresa prevê:
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Redução do número de pedidos anuais para 45 aeronaves comerciais nos próximos 10 anos;
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Queda da rentabilidade, devido à dificuldade de repassar custos para clientes finais;
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Necessidade de reestruturação, que pode incluir cortes de 15% a 20% do quadro de funcionários.
Para manter a competitividade, a Embraer deve intensificar investimentos em tecnologias sustentáveis, combustíveis alternativos e digitalização de processos.
Perspectivas Futuras e Tendências Globais
O setor de aviação global caminha para uma transição tecnológica, marcada por:
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Aeronaves híbridas e elétricas, que prometem reduzir custos operacionais;
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Digitalização de manutenção e logística, permitindo maior eficiência;
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Parcerias estratégicas internacionais, como fusões e joint ventures para driblar barreiras comerciais.
Especialistas apontam que, para sobreviver nesse ambiente, a Embraer precisará diversificar sua base de clientes, investindo mais em mercados emergentes da Ásia, África e Oriente Médio.
Considerações Finais
A tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos representa um dos maiores desafios da história recente da Embraer, exigindo que a fabricante brasileira adote uma abordagem estratégica abrangente para manter sua competitividade global.
Essa medida tarifária não impacta apenas os contratos já firmados com companhias aéreas americanas, mas também coloca em risco novas negociações, margens de lucro e a estabilidade da produção, especialmente devido ao peso significativo que o mercado norte-americano possui na receita da empresa.
Para superar esse cenário, será fundamental a atuação em múltiplas frentes. As negociações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos terão papel essencial para buscar uma redução da tarifa ou a construção de acordos comerciais que minimizem os prejuízos diretos.
A experiência da Embraer em mercados internacionais demonstra que a empresa possui capacidade de diálogo e influência, o que pode ser determinante para o desfecho das conversas bilaterais.
Paralelamente, será necessário acelerar investimentos em inovação tecnológica e diversificação de produtos, incluindo aeronaves mais eficientes, sustentáveis e adaptadas a diferentes demandas globais.
A aposta em novas tecnologias, como combustíveis alternativos, eletrificação parcial de sistemas e melhorias aerodinâmicas, pode fortalecer a posição da Embraer como referência em inovação, abrindo portas para mercados emergentes que priorizam a transição energética e a aviação sustentável.
A expansão para novos mercados internacionais, especialmente na Ásia, no Oriente Médio e na África, torna-se outra prioridade estratégica. Essas regiões têm demonstrado crescimento na aviação regional e podem absorver parte da produção destinada aos EUA, reduzindo a dependência de um único mercado. Além disso, parcerias com empresas globais, como Boeing e outras fabricantes, podem ampliar a presença internacional e gerar soluções conjuntas para enfrentar barreiras comerciais.
Apesar das dificuldades, o histórico de resiliência da Embraer mostra que a empresa já enfrentou períodos de crise e conseguiu se reinventar com sucesso, como ocorreu durante a pandemia de Covid-19, quando adaptou sua produção e fortaleceu novos segmentos, como defesa e jatos executivos.
A atual situação, embora desafiadora, também pode ser encarada como uma oportunidade de transformação estrutural, levando a fabricante a um novo patamar de competitividade e inovação no cenário mundial.
Se conseguir equilibrar diplomacia, tecnologia e diversificação de mercados, a Embraer não apenas superará esse obstáculo, mas poderá sair dele ainda mais consolidada como um dos principais players da aviação global, reforçando seu papel estratégico para a economia brasileira e para o futuro da indústria aeronáutica.
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